Ao passear pela cidade o grupo notou a relação peculiar existente entre carros e pessoas, devido ao tamanho reduzido de calçadas ou até mesmo a ausência delas, pessoas e carros dividem o espaço das ruas. Pensando externamente essa relação, ela pareceu conflituosa mas após imergir na vivência da cidade observou-se certa organicidade. Pensando nisso, o grupo viu no Beco Modesto de Almeida, local carinhosamente apelidado de "triângulo" um potencial de exploração dessa relação. A área residual formada pelo triângulo receberia maior visibilidade e valorização, se consolidando como um local de aconchego, ao mesmo tempo integrado e desvinculado a rua, possibilitando um diálogo entre as pessoas dentro do espaço e os carros e transeuntes externos.
Qual sua relação com este espaço?
Há algo que chame sua atenção neste espaço?
Como realiza seu deslocamento diário? Utiliza carro nesta região? Se não, enquanto pedestre, o que sente em relação aos carros neste espaço?
Você conhece as pessoas que moram/trabalham neste espaço específico?
Como é o fluxo de pessoas aqui durante o ano? Isso muda sua rotina? Se sim, como?
Você sente que este espaço faz parte da praça [do Mercado]?
Há algum elemento neste espaço que lhe incomoda?
Chuchimilco, esculturas feitas de terracota produzidas por povos que habitaram a costa central do Peru |
A exposição apresenta diversas obras relacionadas a figura humana.
As esculturas foram expostas em aquários. Dessa forma, é possível vê-las de todos os lados.
As obras foram separadas por períodos históricos de acordo com a data de sua criação. Foi muito interessante essa organização pois é possível ver claramente o contraste entre as diferentes mentalidades dos artistas, consequentemente da sociedade em cada época.
As paredes das galerias foram pintadas de lilás, cor que comunica bem com a moldura de madeira das pinturas, mas que ao mesmo tempo garante neutralidade as salas.
É possível perceber uma semelhança entre esculturas feitas na África e esculturas feitas na América, o que produz uma reflexão sobre como apesar de terem sido produzidas em épocas, lugares e culturas diferentes existe algo que aproxima os seres humanos.
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Foto: Internet |
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Foto: Tarcísio de Paula |
Não li o conto do qual o espetáculo se inspira, porém, com relação a história, acredito que se a ideia do autor não for colocar o marido como "bonzinho" e "cuidador da esposa" deveria ter explorado melhor o papel de "vilão" do mesmo, que diagnosticou erroneamente a mulher como depressiva e a confinou sem motivo, pois, pela forma como a história é apresentada, têm se a impressão de que o marido estava apenas cumprindo seu papel de médico e a mulher realmente sofria de transtornos e necessitava de tratamentos. O fato do marido ser machista e não deixar a esposa trabalhar é evidente, entretanto, ainda fica o questionamento se aquela mulher realmente tem capacidade para trabalhar e até mesmo se relacionar com outras pessoas.
O enredo não segue uma narrativa, várias atrizes interpretam a mesma personagem o que contribui para gerar a ideia de psicose e transtorno mental. O marido não possui falas em toda a peça, apesar disso, o ator consegue transparecer a ideia de imponência, opressão e superioridade pois em suas cenas trabalha-se muito o uso do corpo.
O cenário do espetáculo é fixo, constituído por uma mesa e quatro cadeiras. A iluminação é muito explorada e é a responsável por criar um importante elemento cênico: o papel de parede.
Os atores iniciam a peça já em cena. Além disso, exploram o espaço do teatro além do palco, utilizando os corredores. Esse fato somado ao pequeno tamanho do teatro, gera uma aproximação maior com o público.
Data: 26/05 a 28/05 Hora: Sexta e sábado, às 20h I Domingo, às 19h
Local: Sesc Palladium
Teatro de Bolso
Galeria Adriana Varejão
Foto: José Vitor |
A galeria apresenta diversas obras da artista Adriana Varejão. A artista é conhecida por trabalhar mais com a lógica da representação do que com a lógica da diferença, características que podem ser observadas em seus trabalhos, que geralmente retratam algo mas não tem o intuito de causar interação com a obra. As obras são dispostas pela galeria de forma que existe um caminho bem definido de como e em que ordem serão vistas. A obra escolhida para ser analisada foi " Linda do Rosário" que gera um contraste poético com o espaço. A obra foi elaborada pela artista com o intuito de representar um acidente trágico, entretanto, abre outras possibilidades de reflexão se o espectador se propor a isso.
A construção utiliza elementos que eu particularmente gosto muito, como o concreto, a água, o vidro e os azulejos (que fazem parte das obras da artista) que geram um contraste interessante entre si e com a vegetação. Alem disso, dá a sensação de grandiosidade mas ao mesmo tempo integração com a natureza.
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Linda do Rosário, 2004 Foto: site oficial inhotim |
Sempre associei o termo "virtual" a tecnologia de automação, entendendo o virtual como um espaço que relaciona pessoas a um sistema operacional, algo contrário ao real. A partir da leitura dos textos propostos, pude compreender o virtual como algo mais amplo e complexo. Virtual seria algo que existe em potência, que se atualiza, um vir a ser, diversas configurações possíveis de algo que não são manifestadas. A partir disso, a virtualidade pode ser compreendida como um evento em estado latente. A interatividade seria o diálogo, a possibilidade de interação. A união dos dois conceitos: virtualidade e interatividade parece-me propor a concepção de algo focando em como transcender sua função inicial, abrindo possibilidades quanto ao seu uso. O desenvolvimento de algo mutável,
dinâmico e aberto a transformação.
BOUNDARY FUNCTIONS (1998) - scott Snibbe
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Esquema do site oficial que explica funcionamento |
Infinito ao Cubo (2007) - Cantoni Crescenti
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Foto site oficial |
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Foto: Amilton Mattos |
O MAHKU é formado por artistas Huni Kuin, povo indígena que vive em ambos os lados da fronteira do Brasil com o Peru. O coletivo origina-se das pesquisas realizadas por Ibã Huni Kuin, com o objetivo de estimular o conhecimento dos cantos e da língua dos antigos. De acordo com o pesquisador e professor, o extrativismo do látex na região fez com que seu povo perdesse grande parte da história e língua. Em 2008, cerca de 36% da população conservava a língua e este conhecimento estava concentrado com os idosos.
Desde 2008, a Universidade Federal do Acre – Campus Floresta trabalha com a formação de professores e pesquisadores indígenas para auxiliar na preservação da identidade dos índios do estado, e foi nessa época que a história de luta de Ibã chegou à academia. O professor de Língua e Artes da Licenciatura Indígena da universidade, Amilton Mattos, iniciou o processo de documentação da pesquisa e no auxílio da tradução das músicas para desenhos, em resgate à língua original Huni Kuin. “Era um projeto para que os jovens aprendessem o que os cantos dizem, porque é uma linguagem difícil e eles não tinham contato com um professor que estivesse ali. Inicialmente começamos a utilizar a linguagem do desenho, da pintura, e esse trabalho saiu do Acre e foi para a Europa. Fomos chamados para uma exposição na França e entramos nesse universo que está crescendo, que é movimento da expressão artística dos povos indígenas, principalmente com as artes visuais, para expressarem seus mundos e seus dilemas com o mundo que a gente vive”, destaca. Parte da trajetória dos Huni Kuin – desde a pesquisa até o reconhecimento dos artistas indígenas – foi evidenciada pelo professor no filme O sonho do nixi pae (2015), exibido durante o seminário no Sesc Palladium. + Informações
O pesquisador Ibã Huni Kuin iniciou o seminário com um canto popular que para a cultura da aldeia, tem significado religioso. O ambiente foi de diálogo e troca de informações, que abriram a discussão para temas importantes.
Vale destacar, a importância da desconstrução do estereótipo do índio que deve viver nu na floresta, sem se apropriar da tecnologia ou da forma ocidental de produzir arte. Assim, desmistifica-se a ideia de que a cultura indígena deve ser imutável, "congelada" no tempo.
O Coletivo Mahku através da criação de um espaço de residência e experimentação artística, tem conseguido resgatar a identidade de seu povo. O espaço construído por eles não tem o propósito de meramente ensinar mas de trocar conhecimentos, buscando reproduzir a diferença, a sobrevivência, o modo de estar e compartilhar o mundo com outros seres. A arte possibilitou ao povo uma nova visão e uma maior valorização de sua cultura.
O professor de Língua e Artes da Licenciatura Indígena da universidade, Amilton Mattos, afirmou que: " A modernidade criou a separação da arte e da tecnologia buscando a colonização por meio da homogeneidade dos povos. " A questão me pareceu complexa pois como seria possível separar arte e tecnologia? Pensando nisso, encontrei o seguinte artigo que trata do mesmo assunto, mas ainda não cheguei a uma conclusão.
Outro tema importante foi levantado pela artista visual Erica Si: “Ter esse contato com o povo ancestral é sempre maravilhoso, porque ele nos auxilia a recuperar uma essência que faz parte de um processo de cura muito importante da nossa sociedade, que é esse resgate da força da floresta com significado mais profundo dos nossos fazeres do dia a dia, porque a gente vai levando as coisas para um lado muito mecânico e nossas relações se tornam superficiais. No processo artístico também é muito importante, porque a própria arte vivencia um esgotamento, um processo de apropriação do molde acadêmico, europeu, então na nossa arte, infelizmente, há um excesso do que é o homem europeu, o homem branco. A gente que é artista só tem muito a aprender com esse povo que traz essa arte tão livre e tão descondicionada dos nossos conceitos".
02 de maio de 2017
Local: Sesc Palladium
A partir disso surgiu a ideia de conceber um sapato que ao ser pisado, reproduziria sons com o auxílio da tecnologia bluetooth. O sapato "invadiria" o aparelho das pessoas e aqueles com o dispositivo bluetooth ligado, se reproduzissem áudios, teriam esses áudios reproduzidos no sapato involuntariamente ou não. O objetivo era questionar a presença do corpo no espaço (o ato de caminhar) e por meio dos áudios, que poderiam ser de diversos tipos, questionar o que define o corpo e como as pessoas o veem. Entretanto, foi compreendido que o objeto ainda estava muito representativo.
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Liga |
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Os cadernos de Kindzu, disposição final do cenário. Foto: Roberta Silvestre |
"Com direção de Ana Teixeira e Stephane Brodt, a nova criação do Amok Teatro, Os Cadernos De Kindzu, tem como ponto de partida a obra literária “Terra Sonâmbula”, do escritor moçambicano Mia Couto. O espetáculo conta a trajetória do jovem Kindzu, que, para fugir das atrocidades de uma devastadora guerra civil, deixa sua vila e parte para uma viagem iniciática. Nela, encontra outros fugitivos, refugiados e personagens repletos de humanidade que lhe farão viver experiências ancoradas tanto na cultura tradicional do sudeste da África, quanto na vivência de um conflito devastador."
Em relação a cenografia, o espetáculo não utiliza coxias, ou seja, os atores e os elementos cênicos estão presentes no palco o tempo todo. É interessante ver a dinamicidade que os objetos cênicos adquirem pois é como se o objeto perdesse a condição de mero objeto cênico para tornar-se parte integrante da obra pois são atribuídas ao mesmo diferentes funções e usos, podendo atuar como instrumento musical, como banco, como pedra ou como divisor de ambientes. Essas transformações ficam claras ao espectador pois quase não se usa black-out durante toda a peça. A iluminação é bem estudada e contribui para guiar os olhos do observador e evidenciar partes em detrimento de outras, além disso, também atua como divisora e construtora de ambientes, como a separação entre água e terra, que aparece na narrativa. De maneira geral a peça não possui cenário fixo e sua construção e reconstrução faz parte da obra. A sala que foi escolhida para abrigar a peça contribui para estabelecer uma relação maior de proximidade entre atores e público pois é menor, o palco é maior que o espaço destinado ao público e em qualquer posição que se escolha para sentar é possível ver todo o palco.
O enredo é instigante, promove a imersão na trama e a empatia com os personagens. Um mesmo ator, com exceção do ator que interpreta Kindzu, interpreta mais de um personagem ao longo da peça. A interpretação acontece de forma tão natural que se a transformação não ocorresse em cena, poderia se dizer que trata-se de outro ator.
O espetáculo aborda temas importantes e abre espaço para reflexão sobre questões como: a existência, o pertencimento, a relação com o espaço e a cultura, a guerra, a terra, a migração.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte
Em cartaz no mesmo local até 08 de maio de 2017.
Indicação:
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Foto: Roberta Silvestre |
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Foto: CCBB. Cuarteto, 2011 Madeira pintada, metal e bronze cromado |
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Foto: Roberta Silvestre |
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Foto: Roberta Silvestre |
Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte
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Foto: Divulgação Oficial |
A pertinente questão do isolamento social também possibilita a reflexão a respeito de quais outros aspectos da vida, as pessoas colocam barreiras para evitar contato com o outro, o novo, o diferente. Estariam as redes sociais dando uma falsa ideia de aproximação entre as pessoas mas na verdade atuando como coberturas de luxo? Você consegue conviver com uma opinião diferente da sua?
É importante que haja interação entre as pessoas pois é a partir do contato com o diferente que é possível expandir possibilidades, repensar questões, mudar de opinião e evoluir.
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Foto: Google Street View |