Seminário Arte e Pesquisas Indígenas (Projeto Desvios)
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Foto: Amilton Mattos |
O MAHKU é formado por artistas Huni Kuin, povo indígena que vive em ambos os lados da fronteira do Brasil com o Peru. O coletivo origina-se das pesquisas realizadas por Ibã Huni Kuin, com o objetivo de estimular o conhecimento dos cantos e da língua dos antigos. De acordo com o pesquisador e professor, o extrativismo do látex na região fez com que seu povo perdesse grande parte da história e língua. Em 2008, cerca de 36% da população conservava a língua e este conhecimento estava concentrado com os idosos.
Desde 2008, a Universidade Federal do Acre – Campus Floresta trabalha com a formação de professores e pesquisadores indígenas para auxiliar na preservação da identidade dos índios do estado, e foi nessa época que a história de luta de Ibã chegou à academia. O professor de Língua e Artes da Licenciatura Indígena da universidade, Amilton Mattos, iniciou o processo de documentação da pesquisa e no auxílio da tradução das músicas para desenhos, em resgate à língua original Huni Kuin. “Era um projeto para que os jovens aprendessem o que os cantos dizem, porque é uma linguagem difícil e eles não tinham contato com um professor que estivesse ali. Inicialmente começamos a utilizar a linguagem do desenho, da pintura, e esse trabalho saiu do Acre e foi para a Europa. Fomos chamados para uma exposição na França e entramos nesse universo que está crescendo, que é movimento da expressão artística dos povos indígenas, principalmente com as artes visuais, para expressarem seus mundos e seus dilemas com o mundo que a gente vive”, destaca. Parte da trajetória dos Huni Kuin – desde a pesquisa até o reconhecimento dos artistas indígenas – foi evidenciada pelo professor no filme O sonho do nixi pae (2015), exibido durante o seminário no Sesc Palladium. + Informações
O pesquisador Ibã Huni Kuin iniciou o seminário com um canto popular que para a cultura da aldeia, tem significado religioso. O ambiente foi de diálogo e troca de informações, que abriram a discussão para temas importantes.
Vale destacar, a importância da desconstrução do estereótipo do índio que deve viver nu na floresta, sem se apropriar da tecnologia ou da forma ocidental de produzir arte. Assim, desmistifica-se a ideia de que a cultura indígena deve ser imutável, "congelada" no tempo.
O Coletivo Mahku através da criação de um espaço de residência e experimentação artística, tem conseguido resgatar a identidade de seu povo. O espaço construído por eles não tem o propósito de meramente ensinar mas de trocar conhecimentos, buscando reproduzir a diferença, a sobrevivência, o modo de estar e compartilhar o mundo com outros seres. A arte possibilitou ao povo uma nova visão e uma maior valorização de sua cultura.
O professor de Língua e Artes da Licenciatura Indígena da universidade, Amilton Mattos, afirmou que: " A modernidade criou a separação da arte e da tecnologia buscando a colonização por meio da homogeneidade dos povos. " A questão me pareceu complexa pois como seria possível separar arte e tecnologia? Pensando nisso, encontrei o seguinte artigo que trata do mesmo assunto, mas ainda não cheguei a uma conclusão.
Outro tema importante foi levantado pela artista visual Erica Si: “Ter esse contato com o povo ancestral é sempre maravilhoso, porque ele nos auxilia a recuperar uma essência que faz parte de um processo de cura muito importante da nossa sociedade, que é esse resgate da força da floresta com significado mais profundo dos nossos fazeres do dia a dia, porque a gente vai levando as coisas para um lado muito mecânico e nossas relações se tornam superficiais. No processo artístico também é muito importante, porque a própria arte vivencia um esgotamento, um processo de apropriação do molde acadêmico, europeu, então na nossa arte, infelizmente, há um excesso do que é o homem europeu, o homem branco. A gente que é artista só tem muito a aprender com esse povo que traz essa arte tão livre e tão descondicionada dos nossos conceitos".
02 de maio de 2017
Local: Sesc Palladium
Teatro de Bolso
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