Os cadernos de Kindzu

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Os cadernos de Kindzu, disposição final do cenário. Foto: Roberta Silvestre

"Com direção de Ana Teixeira e Stephane Brodt, a nova criação do Amok Teatro, Os Cadernos De Kindzu, tem como ponto de partida a obra literária “Terra Sonâmbula”, do escritor moçambicano Mia Couto. O espetáculo conta a trajetória do jovem Kindzu, que, para fugir das atrocidades de uma devastadora guerra civil, deixa sua vila e parte para uma viagem iniciática. Nela, encontra outros fugitivos, refugiados e personagens repletos de humanidade que lhe farão viver experiências ancoradas tanto na cultura tradicional do sudeste da África, quanto na vivência de um conflito devastador."

Em relação a cenografia, o espetáculo não utiliza coxias, ou seja, os atores e os elementos cênicos estão presentes no palco o tempo todo. É interessante ver a dinamicidade que os objetos cênicos adquirem pois é como se o objeto perdesse a condição de mero objeto cênico para tornar-se  parte integrante da obra pois são atribuídas ao mesmo diferentes funções e usos, podendo atuar como instrumento musical, como banco, como pedra ou como divisor de ambientes. Essas transformações ficam claras ao espectador pois quase não se usa black-out durante toda a peça. A iluminação é bem estudada e contribui para guiar os olhos do observador e evidenciar partes em detrimento de outras, além disso, também atua como divisora e construtora de ambientes, como a separação entre água e terra, que aparece na narrativa. De maneira geral a peça não possui cenário fixo e sua construção e reconstrução faz parte da obra. A sala que foi escolhida para abrigar a peça contribui para estabelecer uma relação maior de proximidade entre atores e público pois é menor, o palco é maior que o espaço destinado ao público e em qualquer posição que se escolha para sentar é possível ver todo o palco. 
O enredo é instigante, promove a imersão na trama e a empatia com os personagens.  Um mesmo ator, com exceção do ator que interpreta Kindzu, interpreta mais de um personagem ao longo da peça. A interpretação acontece de forma tão natural que se a transformação não ocorresse em cena, poderia se dizer que trata-se de outro ator.
O espetáculo aborda temas importantes e abre espaço para reflexão sobre questões como: a existência, o pertencimento, a relação com o espaço e a cultura, a guerra, a terra, a migração.

Porque esta guerra não foi feita para nos tirar do país, mas para tirar o pais de dentro de nós. (Kindzu)


Farida: Eu quero sair de África.

Kindzu: Ambos queremos partir. Mas eu quero encontrar um outro continente dentro de África. A terra que tu procuras é essa, não há outro lugar. 


Eu sou um sonhador de lembranças, um inventor de verdades. (Taimo) 

O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro. 


Local: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte


Praça da Liberdade, 450 – Funcionários
CEP: 30140-010 | Belo Horizonte - MG
(31) 3431-9400
Assistido em: 07 de abril de 2017

Em cartaz no mesmo local até 08 de maio de 2017.
Indicação: 
Os diretores Ana Teixeira e Stéphane Brodt, da Companhia Amok Teatro, se juntam ao elenco da montagem “Os Cadernos de Kindzu”, para um bate-papo com o público no dia 6 de maio, às 16 horas, no teatro II. A entrada é gratuita e a capacidade do local é de 85 pessoas

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