Reflexão

Roupa e Arquitetura

00:03

                                             

A história nos diz que a roupa e a arquitetura surgem de necessidades básicas comuns como: proteção, conforto, abrigo e/ou distinção social. Além disso, a evolução e desenvolvimento de ambas está fortemente atrelada aos costumes e hierarquia de determinada sociedade. Entretanto, enquanto o vestuário preocupa-se em vestir o corpo compreendendo o indivíduo, a arquitetura preocupa-se em "vestir" o espaço, compreendendo a coletividade e trabalhando a espacialidade.  A roupa limita o corpo e a arquitetura limita o espaço ocupado pelo corpo.
Outra questão a ser analisada está relacionada ao ciclo de duração e uso. A roupa apresenta um ciclo menor de duração, ou seja, mudança rápida nas tendências, maiores possibilidades de troca e combinações de peças. Conservar e guardar uma peça de roupa por muitos anos é difícil, principalmente mantendo as características originais. Além disso, em sociedades em que o consumo é estimulado, a repetição prolongada de roupas e a renúncia a moda vigente não é algo visto como positivo. Em contraponto, a arquitetura apresenta um ciclo mais longo, rígido e até mesmo fixo. É possível encontrar construções muito antigas, não necessariamente atendendo o mesmo propósito original, em uso. Bem como, existem cidades tombadas como patrimônio histórico em que as construções originais devem ser conservadas e restauradas e novas construções devem seguir a base original. Ademais, por se tratar de algo coletivo a arquitetura parece depender muito mais do consenso, das demandas e relações estabelecidas pela sociedade e das inovações tecnológicas (materiais, concepção, ect.)  do que as roupas. 

Análise

Documentário: Um lugar ao Sol

23:42

Foto: Divulgação Oficial
SINOPSE 
Um grupo de pessoas desfruta de uma realidade diferente daquela que a maioria dos brasileiros têm. O dia-a-dia dos moradores de luxuosas coberturas de prédios é abordado através de depoimentos, que geram um debate sobre suas diferentes visões em relação à cidade que os rodeia, neste caso Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. No topo dos condomínios, essas pessoas têm uma visão privilegiada, esbanjam status, poder e muitas vezes são alvo de visibilidade, insegurança e do seu próprio desejo.

O documentário possibilita a abertura para discussão de diversos temas ao apresentar a fala de pessoas influentes no Brasil, residentes em coberturas luxuosas. Durante a apresentação das falas é raro perceber a presença do entrevistador, demonstrando uma liberdade maior do entrevistado para construir seu relato. Além disso, o fato de que as pessoas mais influentes do país possuem grande poder aquisitivo evidencia que o funcionamento e a política do país é ditada pelo mercado em detrimento das pessoas, fato que explica a desigualdade social acentuada.
Em geral, a partir dos depoimentos conclui-se que os moradores possuem ampla visão física e geográfica do espaço, entretanto, possuem visão limitada sobre a vida e suas complexidades. A exemplo disso, a vida é colocada por alguns como dividida em duas facções: o bem e o mal, os moradores das coberturas seriam o bem pois são mais privilegiados e se encontram "mais perto de Deus". Esse discurso serve para justificar ações segregacionistas e ao mesmo tempo ausentar a responsabilidade sobre o que acontece na cidade. 
O relato dos moradores também evidencia que a busca por esse tipo de moradia não está primordialmente relacionada ao conforto proporcionado: como a vista privilegiada, a privacidade ou maiores possibilidades quanto ao uso, mas sim, a simbologia atrelada a esse espaço, que garantiria superioridade, dominação e isolamento social. Conforme afirmado por uma família, a cobertura não seria apenas uma habitação mas uma outra dimensão que permite assistir a vida urbana com certo distanciamento. A mesma família transforma a pobreza em paisagem ao elogiar a estética das casas da comunidade do Glória sem se preocupar com a condição em que vivem as pessoas dali, além disso,  transforma a violência em espetáculo ao relatar cenas brutais vivenciadas por essa mesma comunidade como algo belo e interessante. 
A pertinente questão do isolamento social também possibilita a reflexão a respeito de quais outros aspectos da vida, as pessoas colocam barreiras para evitar contato com o outro, o novo, o diferente. Estariam as redes sociais dando uma falsa ideia de aproximação entre as pessoas mas na verdade atuando como coberturas de luxo? Você consegue conviver com uma opinião diferente da sua? 
É importante que haja interação entre as pessoas pois é a partir do contato com o diferente que é possível expandir possibilidades, repensar questões, mudar de opinião e evoluir.   



Reflexão

Percepção mediada e imediata

16:52

Foto: Google Street View
Separar espaço e tempo é um grande desafio. Quando alguém pensa em um espaço, automaticamente o coloca em determinado tempo, recorrendo ou não a memória. A fotografia permite "congelar" os momentos de um espaço, um grande fotografo é aquele que consegue transmitir sua percepção/sensação do momento e utilizar a composição para determinar o que receberá maior atenção do espectador, mediando a experiência. Ao analisar um espaço pela ferramenta do Google Street View a percepção é mediada por um satélite que registra o espaço. A imagem gerada é uma boa ferramenta de localização espacial mas não permite vivenciar verdadeiramente o lugar pois o espaço é mutável e necessita da ação do tempo. Quando se trata de uma percepção mediada é preciso confiar que a representação é fiel a realidade ou admitir que os sentidos serão limitados por algum mediador.  Em contrapartida, a percepção imediata permite que o próprio indivíduo seja ator das mudanças que ocorrem no espaço e garante maior autonomia na escolha do que será percebido ou do que será ignorado. Além disso, lida-se com o acaso, com todos os elementos presentes no espaço que podem ser analisados juntos ou separados mas é por intermédio deles e de suas relações que a experiência é construída.

Evento

Palestra Fernando Haddad

07:10

A aula inaugural da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais contou com a presença de Fernando Haddad. O ex-prefeito de São Paulo abordou sua experiência política como gestor da cidade nos últimos quatro anos e temas relevantes para a atualidade como: o desenvolvimento em meio à crise e o acesso à terra. Além disso, ele fez considerações importantes sobre o urbanismo, os movimentos populares e política de modo geral. O mesmo se mostrou aberto para responder perguntas e criou um ambiente aberto para o diálogo. Haddad acaba de reassumir suas atividades acadêmicas como professor do Departamento de Ciência Política da USP.
Um dos grandes desafios da organização pública é como fazer a cidade funcionar para todos. Diante disso, Haddad vê como solução a interação entre as pessoas, pois, segundo ele a interação possibilita mudar de opinião, repensar uma ideia, o que gera vida na cidade. Entretanto, para isso é imprescindível que os habitantes possuam autonomia do pensamento e sejam ativos socialmente, ou seja, possuam consciência cidadã. Como ele citou, a cidade é o locus da rebeldia, e é pelo espaço e interação entre as diversas formas de pensamento que ela é formada. O principal problema ocorre quando o mercado começa a ditar o funcionamento/política da cidade, pois a mesma começa a existir não mais em função das pessoas, mas sim em função da quantidade de poder aquisitivo de cada um, atendendo aos interesses de quem possui maior poder aquisitivo e segregando/ agindo com descaso com os menos favorecidos. Haddad vê na crise política o lado positivo de possibilitar essa integração entre as pessoas, ele acredita que a crise de 2013 abriu oportunidade para radicalizar (focar na raiz) e transformar São Paulo em um cenário de produção de cidade oposta à lógica pós-guerra.
Outras reflexões levantadas a partir da palestra:
- Como manter as interações positivas na cidade?
- Como organizar a cidade para funcionar para todos?
- Como transformar a diversidade da cidade em patrimônio?
- A modernidade trouxe autonomia para a arte, tornando-a independente da política?
- Qual a relação entre as redes sociais e a segregação?

Local: 
Escola de Arquitetura
Universidade Federal de Minas Gerais

 Rua Paraíba, 697 - Funcionários
Belo Horizonte, Minas Gerais - Brasil
CEP: 30130-140

Data: 22 de março de 2017

Reflexão

Potencial de mudança na concepção e vivência dos espaços possibilitada pela fabricação digital, prototipagem rápida e parametrização.

23:56


Foto por Roberta Silvestre

 Antigamente, a lógica das artes de modo geral transitava pelo campo da representação, atualmente parece ser possível observar também a lógica da diferença. Diferente da primeira, a segunda não estaria preocupada em representar formas e/ou signos mas sim em garantir interatividade, diálogo e ampliação de possibilidades entre artista e público/usuário. Na arquitetura, essa lógica parece ganhar força a partir de métodos de automação como a fabricação digital, a prototipagem e a parametrização. As técnicas mencionadas possibilitam maior rapidez, agilidade e menor custo. Além disso, permitem a concepção de estruturas com geometrias complexas de difícil execução ou até mesmo a produção de fôrmas a serem utilizadas durante a obra. Em termos de projeto, permitem melhor avaliação e visão da obra antes de sua concepção. 

Ao meu ver, tais técnicas, principalmente a parametrização, trazem a tona  o texto: "Animação Cultural" de Flusser sobre o homem e sua relação com os objetos, estaria o homem conectando-se cada vez mais com os objetos ao seu redor, inclusive as paredes de sua casa, e cada vez menos entre si?
 Como parte da reflexão apresento o seguinte trecho do artigo: "Parametricist Manifesto / Patrik Schumacher"

"What is exciting about this new style is that parametricism offers a flexible set of components to manipulate, which leads to an infinite amount of variation.  While in the past, there was a strong allegiance for rigid geometrical figures, now, a conceptual definition of parametricism shows that “the new primitives are animate, dynamic, and interactive entities—splines, nurbs, and subdivs—that act as building blocks for dynamic systems.”

O trecho contribui para ressaltar a importância em conceber o espaço focando na interação e em como transcender a função inicial do objeto/espaço abrindo possibilidades quanto ao seu uso. O espaço deixa de ser algo estático para se adequar a diversas possibilidades, tornando-se mutável, dinâmico e aberto a transformação. Características esperadas de um mundo plural e altamente conectado

Análise

Crítica Objeto Interativo

23:54



Tendo em vista que a proposta é a criação de um objeto interativo programático, o objeto deixa a desejar no quesito programático pois existe a determinação de como as pessoas devem interagir com o mesmo e as possíveis formas e caminhos resultantes da interação são evidentes. Além disso, a forma dos elementos do objeto atua como limitante do pensamento pois a imagem de um carro dentro de uma cidade já é um signo forte estabelecido no imaginário das pessoas. No quesito interação, o objeto cumpre bem o seu papel ao se mostrar envolvente e possuir dinâmica diferenciada pelo uso de imãs em conjunto com palitinhos. O mesmo parece ser esteticamente interessante.

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